sexta-feira, 29 de março de 2013

Quando, para justificar não ter dito nada durante um dia, ele diz: "(...) Tenho estado num retiro espiritual", não há reacção a ter. 
É colocarmos todas as nossas convicções numa caixa, guardá-la na parte mais alta do armário e esperar que o lodo desapareça do chão. 

MM

segunda-feira, 25 de março de 2013

Cenas do além-terra-firme

Não acredito em bruxas. Mas que as há, hão. Não acredito em cenas sobrenaturais. Mas abro excepções a tudo o que me parece credível. Não acredito em Deus. Mas peço-lhe uma ajudinha nas horas de aperto. Não acredito na história da Virgem Maria. Mas não ponho em causa a existência de Jesus Cristo, com todas as qualidades bíblicas que lhe assistem (embora creia piamente na versão do Saramago acerca da temática). A história dos 3 pastorinhos e a aparição da Fatinha....fome, muita fome. Mas gosto do efeito que o Santuário de Fátima tem sobre as pessoas. Um embuste benevolente.
Sou católica em regime supletivo. Na falta de convicções noutra direcção, o tuga nasce e vive católico. Entrei na Catequese um ano mais tarde do que era suposto (na altura em que entrei na primária disseram à minha mãe que era melhor esperar um aninho para eu amadurecer), e no fundo sei que foi isso que estragou tudo. Sempre fui das pessoas mais novas em todo o lado. Menos na Catequese, onde me sentia uma autêntica repetente, com a delinquência que se atribui a quem anda atrasado no tempo. Fiz a 1.ª Comunhão e ainda sobrevivi a cantilenas e passeios e lanches na floresta mais dois anos. O meu pai, da mesma forma que me tinha dito "enquanto eu mandar, andas na Catequese", criou a aparência de vivermos numa democracia doméstica e deixou-me sair quando se apercebeu que os fins-de-semana estavam todos hipotecados por causa da brincadeira e afinal eu não fazia assim tanta questão de andar naquela vida.
Extra-terrestres: o "ET" é fofinho, durante anos tive uma visão tranquila daqueles seres verdes e das naves espaciais, mas depois o filme "Sinais" abalou o romantismo da coisa e inquitou-me de alguma forma.
Gosto muito se saber o que me rodeia, de ter os pés assentes em terra firme e de viver objectivamente. Mas como é bom de ver...não sou fundamentalista. Tenho curiosidade sobre tudo o que a Razão não explica, não sou nada obcecada pelo "cientificamente provado". Horóscopo, por exemplo. Pode ser coincidência, mas tudo o que se diz acerca dos signos encaixa com o perfil das pessoas. Cartomância. Também pode tratar-se de mera coincidência, mas as peças vão-se encaixando.
Em 2004, ano em que entrei na Faculdade, consultei uma Cartomante. Disse-me pequenas coisas que na altura não faziam muito sentido (tudo o resto encaixava-se tanto na minha vida como na do vizinho). Mas volta e meia, à medida que o tempo foi passando, as coisas foram acontecendo.
Em 2012 consultei uma Cartomante aqui no Porto, que me disse poucas e boas. Na altura andava entretida com um piqueno (mesmo!) e ela disse-me (ignorando a minha convicção ao dizer-lhe que não havia ninguém na minha vida): "é, ele gosta de si, respeita-a, mas não vejo união". Eu também não via, mas foi engraçado saber que os astros tinham a mesma opinião. Disse-me que as coisas iam correr bem. Trabalho (dinheiro não sei, mas trabalho não há-de faltar), casamento, filhos (sim, perguntei-lhe se o plural era por mera facilidade de expressão; não, não era), saudinha para a família, um irmão em alguns momentos a reclamar atenção, etc. e tal.
Fui uma segunda vez. Para além de me traçar o mesmo perfil de mais defeitos do que qualidades, disse as mesmas coisas. Inovou apenas quando me disse que "há um homem casado que gosta de si". Perante a minha incredulidade, disse "mas se você nem sabe quem é, deixe lá, é porque não tem nenhum interesse e ele há-de seguir a vidinha dele".
Fui uma terceira vez. As mesmas coisas (mas sem o homem casado). Um cenário azul de fazer inveja. De negativo só mesmo os meus defeitos, que continuaram os mesmos. Profissionalmente, este é um ano decisivo. Sei que sim, para bem ou para mal.  Diz ela que é para bem. Veremos.
Hoje tentei marcar uma quarta consulta. O número de telefone não funciona. Vou interpretar isto como um sinal e deixar que venha melhor tempo. Com chuva, frio e nevoeiro não se adivinham boas mensagens vindas dos astros.
Estas visitas ao desconhecido não me condicionam a vida. Mas também tenho que assumir que a Senhora só me tem dito coisas boas. Saio de lá de sorriso na cara, ao contrário de outras pessoas que saem de lá lavadas em lágrimas e com mezinhas para um ano. Não consigo saber - nem quero experimentar, obrigada - como reagiria se ela me dissesse coisas más. Tipo: vais ficar desempregada. Vais ter uma doença na família (que se fosse comigo eu ainda podia, mas mexer com a minha família...). Ou simplesmente: vais ficar sozinha o resto da vida. Esta merece explicação: eu não tenho medo de ficar sozinha, não quero é que me sirvam isso como uma certeza. Dizer-me que me vou casar e ter filhos é giro, mas também deixava de ser se me dissesse "para o ano, filha".


MM




quinta-feira, 21 de março de 2013

Não confio:

Em pessoas que trabalham de phones nos ouvidos e se fazem embalar dia fora ao ritmo das musiquinhas. Pessoas dessas fazem-me temer pela qualidade do trabalho que produzem. E fazem-me suspeitar que a qualquer momento me vão convidar para fazer um Harlem Shake. 

MM

sexta-feira, 8 de março de 2013

A Mulher e o seu dia

O dia da mulher faz todo o sentido. Porque nascer mulher é verdadeiramente uma ínfima probabilidade de entre milhares de possibilidades.



Se é por causa dos movimentos feministas aos quais tenho que agradecer o meu posto de trabalho, então faz ainda mais sentido que todo o género seja homenageado.



Todas as efemérides têm um visado ou um grupo de visados. Haver um dia da mulher faz com que pareçamos também um grupo, uma minoria, e com isso dissipam-se as benevolentes intenções do dia. Fazia sentido homenagear aquela meia dúzia que se pôs a mexer para alcançar direitos e igualdades e tudo o mais. Agora homenagear TODAS as mulheres… é forçado. É que eu cá não fiz nada para merecer a rosa que recebi. Só por ser mulher? Ah, está bem.


Mas isto, claro, é o meu cérebro macabro a dar cabo da festa. Porque do que gostamos mesmo é de receber mimos e flores e o reconhecimento de que somos iguais aos homens, sendo por isso obrigadas a reconhecer que podia não ser assim.

MM