O
ciclo biológico é simples. A pessoa nasce, vive e morre.
Nasce
de forma mais ou menos simples e morre de forma mais ou menos descomplicada. O
grande drama é aquela fase intermédia.
Escola,
trabalho, família, amigos, relacionamentos amorosos, sexo, dinheiro.
É
isto que preenche os anos que cá andamos. A gestão destas matérias, ao longo da
vida, tem uma finalidade única: alcançar a tal da Felicidade. É um conceito
indeterminado, preenchido a gosto por
cada um de nós, normalmente com pitadas de megalomania aqui e além, mas que
para todos pressupõe satisfação plena em todas as valências da vida.
Ora
bem, de todas as construções idílicas a que a mente humana se permite, a
Felicidade, enquanto estado orgásmico
a que ansiamos chegar para nele ficarmos em permanência, é a mais perniciosa de
todas. Perniciosa na medida em que é inatingível e nos tolda da fruição dos
filhos da mãe dos tantos pequenos momentos em que somos felizes. Vivemos tão
absortos na busca daquela epifania que nada nos satisfaz. Então somos
infelizes. Se não podemos ser Felizes à grande e para sempre, somos infelizes.
Cada
frustração, desgosto ou perda parece fazer-nos recuar naquela jornada da busca
pela Felicidade e por isso empurra-nos para o outro pólo, o da Infelicidade.
Esse sim, facilmente atingível e com honras de permanência. A Prozac está em
alta.
Há
que ter moderação. Se perceber que a Felicidade não acontecerá “um dia” é como
descobrir que o Matt Bomer é gay (ou seja, muito fodido!!) equilibremos a
balança com a perspetiva de não termos que viver em permanente infelicidade. Há
que saber relativizar cada merda que nos acontece: Valorar o problema de forma
estanque (sem sentirmos que tudo é
uma merda), dar o tratamento adequado e imediato (ficar a remoer é muito “eu” e
por isso sei que não dá saúde), sentirmo-nos miseráveis na medida e no tempo
necessários, e por fim ultrapassar a situação com dignidade – ou, para os mais
destemidos, tentar chegar àquele estado nirvânico de “não chores porque acabou,
sorri porque aconteceu” – porque, em boa verdade, tudo o que é mau pressupõe
alguma forma de perda de uma coisa boa.
Na
minha escala de problemas, caio muitas vezes no lugar-comum da pequena infelicidade. Alimento o pequeno
monstro algum tempo mas, como sou avessa a compromissos, depois deixo-o sozinho
na masmorra. Só que o filho da puta nunca morre desnutrido porque aparece
sempre outra merda qualquer para o alimentar. Há sempre merdas a acontecer.
Divido as pequenas merdas em 3 grupos:
-
Pequenas merdas que sempre o serão: Insatisfação no trabalho, pouco dinheiro,
escalões de IRS, a crise, a massa adiposa, a Sara Sampaio;
-
Pequenas merdas recorrentes: Aquelas que variam na forma, e que por isso
deixamos que se repitam, na esperança de um desfecho diferente, mas não em
substância. Encaixo aqui os chutos que levo. Os tipos variam na forma como se põem
a milhas mas em substância fico sempre na merda. Mesmo quando sou eu a dar o
real chuto, fico na merda. Porque o tipo comporta-se com uma tal aparência de
ter sido ele a dar-me um chuto que até eu fico confusa e portanto, já na dúvida,
opto por ficar na merda. Mas é aquele estar na merda que consigo manter em
simultâneo com uma vida normal. Ninguém dá por isso. A merda fica latente até
aparecer outra que antes de o ser ainda me dá os tais momentos felizes que eu
disse que temos que aprender a valorizar. Quando estão pendentes várias merdas
deste estilo, o meu segredo é arranjar uma só merda que, de tão grandiosa, absorve
todas as outras;
-
O grupo das filhas da putice: São aquelas atitudes de merda. Se a pessoa teve
uma atitude de merda connosco e se, dentro de um período de tempo razoável, não
se redimir, passamos a admitir que se conformou com a sua falta de noção. Somos
seres pensantes e como tal pouco de fortuito fazemos. Sabemos exatamente o que
estamos a fazer, por isso das duas uma: ou fazemos porque nos estamos a cagar
para a outra pessoa, ou porque temos mesmo a intenção de a magoar. A omissão de
zelo tem a mesma gravidade que a intenção declarada de lixar a outra pessoa. Filhas
da putice subtis é aquele tipo de pequena merda só comparável com o incómodo de
uma melga dentro do quarto. É só uma melga. Mas não conseguimos descansar até nos
livrarmos dela.
Mas
há que relativizar a merda É sorrir e acenar, rapazes.
MM