quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Estou com uma sensação de melancolia agonizante. Mas não é daquelas más sensações sem explicação, que aparecem maioritariamente em dias como este, nublado, nem frio nem quente, em que tendemos para a depressão imotivada e para a "dor de cabeça, é do tempo". 
Não, eu sei ao que se deve a minha agonia. Tenho um trabalho em fim de vida, pronto para abate. 
De novo só mesmo os problemas. Todos os dias um prontinho a estrear. Mas como já percebi que é assim que a coisa acontece, que nunca vai mudar, que a tendência é piorar, aprendi a desvalorizar, a chutar para mais logo a resolução dos problemas.
Já não entro em hiperventilação cada vez que me aparece um problema. Dou aquele suspiro a sugerir preocupação, mas no fundo, bem no fundo, a única convulsão que sinto é a da minha grande-vontade-interior a mandar toda a gente para as grandes mães que os pariram. 
Chego a imaginar cenários de execução em massa. 
Às vezes apelo à natureza para que mande vir de lá um pequeno tremor de terra, um tsunami, um tornado, qualquer coisa com epicentro aqui, bem aqui onde estou (sacrifico uma perna partida, não mais. Nada de feridas na cara. Escoriações só nos membros inferiores, p.f.). 
Também não raras vezes tenho fé na intervenção humana. Um assalto, uma tomada de reféns, que me sequestrem durante dez horas, sei lá, qualquer coisa que me permita alguma glória no trabalho. 
E assim nasce um psicopata. 

MM

terça-feira, 20 de agosto de 2013

De Barcelona:

HOSTEL: À excepção de Mercúrio, onde (diz-se, sem grande certeza) há um m2 menos confortável, aquele é o pior espaço da Via Láctea. Só não digo que é o pior sítio do Universo porque não gosto de exageros. A diferença entre aquela coisa e um abrigo para sem-abrigo em noites geladas e de tempestade deve ser mesmo o facto de nestes darem leitinho quente à noite e as pessoas aproveitarem para tomar um banho.
Não era preciso passar por esta provação para dar valor ao meu T2 arrendado, mobilado humildemente com contraplacados da IKEA. Tão limpinho, tão confortável. Uma dúzia de pessoas de todos os sexos (hoje em dia não há só dois, Barcelona sabe) numa camarata, foi experiência que em Londres correu muito bem. Foi um enfarte de contentamento, a começar pelo rabo nu na primeira manhã, passando pelo pequeno-almoço porreirinho e o espaço agradável, limpo, cheirosinho, enfim, um espaço para pessoas.
Em Barcelona, não foi a mistura de géneros que nos causou insatisfação. 9 pessoas numa camarata não é problemático (se bem que agradeço aos céus não ter que ter visto nenhum daqueles rabos nus). Pior foi a badalhoquice daquelas pessoas, a desarrumação, a vida meliante que se lhes pode adivinhar. Pessoas de "Peace and love", diria até "porreiras", mas esquecidas na evolução humana. Desatentos à invenção do chuveiro, das escovas de dentes, do gel de banho, dos malefícios dos germes, desconhecedores de doenças elementares.
O espaço em si era a última geração do insuportável (um quarto sem janelas, separado de outros com paredes pladur que não chegavam ao tecto, o que permitia a interacção entre as gentes). Mas até podia ser tranquilo, asseado, não fossem aquelas pessoas tão assim, a puxar para o muito badalhoco.
O momento orgásmico de toda a situação foi na última noite, em que do lado de lá da frágil parede nos presentearam com vómito. Isso, vómito. E como alguém de entre nós disse, a julgar pelo tempo entre o arranque do vómito e a sua queda triunfal no chão, o pequeno monstro devia estar no beliche de cima. Dizia a CP, com aquela ínfima satisfação que em qualquer calamidade conseguimos encontrar, "ainda bem que não é aqui". Pois, "e o cheiro?". Por acaso o cheiro não se destacou daquele que já não era muito respirável no quarto. Talvez o fumo dos charros e o cheirinho a Erva tenham camuflado. Pura sorte, no meio da desgraça, porque senão teríamos ali uma competição ao mais alto nível.
Para ainda melhor se perceber de que espécie de pessoas falamos, logo no 1.º dia, escassas horas depois de termos chegado, bastou uma pequena distracção e a minha toalha verde-alface (era desta cor, era) já navegava para dentro do saco de uma moça que achava que era "do povo". , Vá-se lá perceber o meu egoísmo, tirei-lhe a toalha o mais delicadamente que consegui. Se até o cadeado do cacifo eu pudesse deixar do lado de dentro precisamente do cacifo, senhores, eu tinha deixado.
Mas há dois aspectos acima do 0 na escala -20 a 10. Ao pequeno-almoço dou 5 e à localização dou 10. Ficava a...10, 5, 3 metros da praia?

RESTAURANTES: Sei que falar de comida depois do episódio do vómito, não é fixe. Mas vamos tentar. Eu, que lá estive e porque lá estive, dificilmente me impressiono agora com a mistura de assuntos.
Ficámos em Barceloneta, separada do acesso principal ao mundo por uma rua (Passeo de D. Juan de Gorgón, será?) tão comprida e tão cheia de restaurantes que chegámos a duvidar se algum dia conseguiríamos chegar ao fim da rua e ir para o centro da cidade. Tratámo-nos bem, sim senhores. Cada refeição (farta q.b.) ficava por volta dos € 15,00 a cada pessoa. No Porto, qualquer restaurante daquele tipo é mais caro, parece-me. Não fomos para a sapateira e para o camarão-tigre e outros bichos iluminados, mas não fugimos muito do marisco. Foi muito bom (jantar no Hostel com comida comprada no supermaket também aconteceu, mas foi só uma vez, tivemos medo que se desinstalasse de nós a pouca classe que nos sobrava).
Mas nem tudo são rosas. Espero ansiosamente pelo desemvolvimento da ténia inseminada dentro de mim por aquele hamburguer mal passado que uma chinesa preparou na cozinha daquele restaurante badalhoco. Ir a um restaurante que tenha pouca gente (ninguém, no caso), é consabido que é má ideia. Se está vazio, por alguma razão mais ou menos óbvia será.

PRAIA: Espectacular. Entre as toalhas não havia espaço para dois pés juntos, há pouco areal para tanta pele exposta. Mas no meio da confusão, foram algumas as siestas e saí de lá a puxar para o castanho. Tudo coisas quase impossíveis no meu imaginário. Ainda ressoa nos meus ouvidos a sequência "Mojitos, Margaritas, Agua, Water, Cerveza, Beer!", gritada de 10 em 10 segundos, mas hei-de recuperar. Só há uma coisinha a apontar, e juro que não é comichão nossa: pessoas, existem caixotes do lixo. Deixar lixo na praia, tipo garrafas, latas de cerveja, cascas de laranja (true!), na minha terra não é lá muito bem visto. Em terra de nuestros hermanos é coisa comum. E sabendo nós que para aí 99% dos veraneantes eram estrangeiros de toda a parte deste planeta verdejante, arrisco-me a dizer que o mundo é uma badalhoquice (afinal o pessoal do Hostel estava só "em casa").

NOITE: Razzmatazz. Este nome foi-nos recomendado, não fomos lá só porque calhou alinharmos no canto da sereia, vulgo rapariga que nos apareceu na praia a promover o espectáculo imperdível que seria aquela noite na Razzmatazz.
O que dizer sem parecer antipatia? A música estava benzinho.
Nada mais estava benzinho. Era uma espécie de Queima num espaço fechado, mas igualmente consporcado (começa a parecer mania, esta coisa da badalhoquice, mas não, era bem real. E quem vai de sandálias e saia brancas àquela discoteca, não sabe mesmo ao que vai, ai não sabe não).
A grande diferença é que na Queima não costuma haver gajas nuas e um anão, sendo uma daquelas gajas nuas um mamute que tira (só a vi tirar, tenho pena de quem a viu pôr também) do meio das perninhas uma cena gigante com um formato fálico, daquelas que se compram em casas especializadas e que pretendem imitar uma certa parte da anatomia masculina (sim, uma pila gigante).
Tínhamos transporte às 5h. Decidimos esperar na rua, fora da discoteca, vulneráveis aos riscos nocturnos. Isto explica o quanto adorámos aquilo?
Antes da Razzmatazz já tínhamos ido a outras duas discotecas e só registei a enormidade dos espaços. Não me apercebi de mais nada, tanto por causa da efemeridade das visitas como por causa da garrafa de Mojito que tínhamos bebido.
Há bares, fomos a um em La Rambla (deve ser a rua mãe das outras Ramblas) e toda uma la movida, mas basicamente é mais do mesmo do que já se conhece de terras lusas. Não aprofundámos. Queríamos muito recolher cedinho e aproveitar o Hostel.

CIDADE: Sendo esta uma viagem de Verão, a praia ocupou-nos o tempo que seria necessário para percorrer a cidade. Do cimo de Montjuic deu para perceber a imensidão da cidade e a impossibilidade óbvia de conhecermos todos os pontos de interesse. Fica para uma próxima, mas gostei muito do que vi e fiquei com vontade de conhecer mais e melhor. 
Os sightseeing bus que me aguardem. 
É claramente uma cidade de passagem, de formiguinhas tontas de máquina fotográfica em riste. A língua predominante é...a primeira que nos vier à cabeça. Foi do inglês ao portinhol, com uns toques no francês. Sem critério, o que calhasse primeiro. E toda a gente se entendeu.


Saldo positivo.

MM








quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por respeito à idade

Aquele sentimento que resulta de uma corrida contra o tempo, dentro de um táxi, até à estação de comboios, já sem grande esperança de conseguir apanhar o comboio mas sem desistir de lutar. A viagem até está a correr bem. Eu dei o meu melhor e estou pronta para um sprint final. O taxista está a dar o seu melhor. A esperança renasce de forma séria. Então a 500 metros da estação, um idoso atira-se à passadeira, sem piedade e na sua permitida velocidade slow motion.... E pronto, foi-se a viagem de comboio, já paga, com o acréscimo do custo com o táxi, além da frustração.

Foi isto que eu senti hoje, após um dia de trabalho ofegante que culminou com a tão típica bolada no poste de um ser, que não sendo idoso, lhe é permitido um certo slow motion e tropeço nas próprias pernas.

E só por respeito à idade não me saiu um "fdx, nem lá vais nem deixas ir". 

ceteris paribus