terça-feira, 25 de julho de 2017

Como é que isso corre?

O que temia: não consigo organizar isto. Odeio organizar coisas.

O que decidi lá no meu íntimo: vou simplificar isto. Na verdade não há motivo para dramas. É tratar de vestido, igreja e quinta. Ponto.

O que está a acontecer: não consigo organizar isto. Odeio organizar coisas. Fico nervosa por não estar a conseguir controlar tudo. Tenho noivo activo, a família animada e amigas atentas e eu sinto-me em alto mar a boiar apenas com o apoio de uma braçadeira de criança.

Não tenho sequer espaço na minha cabeça para viver a cena com a ansiedade positiva que se espera. Vou casar, e o que na verdade me preocupa é o raio da decoradora que não me mostra o que pretende fazer, o cabeleireiro que na prova me prende o cabelo com um elástico e dois ganchos e diz "é mais ou menos isto que quer, certo?", é com quem vou juntar a tia-avó no jantar, é se a comida vai estar boa e se vai haver vinho que chegue, é onde raio vou encaixar mais de trinta anos de existência partindo do pressuposto que terei o meu espaço disponível reduzido a metade, é se vai estar sol ou a chover, são as merdas dos brincos que não consigo escolher e a p*ta da sessão de solteiro que me assombra, é a responsabilidade de saber que tenho algumas dezenas de pessoas a percorrer quilómetros para usufruir de uma cena que estamos a organizar. É a minha futura alteração de rotinas.

Às vezes, por segundos, tenho consciência do meu estado ridículo e volto a tentar simplificar e desmistificar a coisa na minha cabeça. Mas depois vem a lista dos To-Do à mente e volto ao caos. E assumir isto aos que me são mais próximos tem sido talvez uma forma de dizer em alta voz o que me aflige, a ver se a coisa me parece menos feia, mas depois fico ainda mais deprimida porque me coloco e apresento num estado deplorável que não condiz com o que é suposto. 

Gosto muito quando se cruzam comigo algures entre a copa e o wc e me perguntam: "então já estás nervosa?" Na minha cabeça vem uma lista de queixumes e azedumes mas limito-me ao encolher de ombros e a um "tudo a rolar" porque, na verdade, o que as pessoas esperam é que eu diga algo muito bonito sobre todo este processo. Ou, na verdade, o que esperam é exactamente que eu resuma a coisa, com um sorriso, ao "tudo a rolar". 

O que gostava muito:  "que isto passe depressa" não é um desejo. Preciso de tempo para a lista do To-Do. Acho que queria alguém a rever a lista do To-Do e a tentar antecipar cada detalhe do dia porque tenho a certeza que me estão a escapar cenas importantes que dependem totalmente da minha capacidade de organização e decoração e escolhas convictas. Tudo aquilo que me assiste como é bom de se ver.

Bem, mas está tudo a rolar.
CP


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Faz como quiseres

Três palavras que matam uma negociação e são a prova de que uma das partes não se está nas tintas (se estivesse não se teria chegado à parte do "faz o que quiseres") mas está a querer armar a tenda.

Numa analogia, isto é como aquele miúdo de 18 anos que bebe duas cervejas e, numa de rebeldia e demonstração de macheza, arma o peito e junta a testa à do seu adversário (que passa aliás, e naquele mesmo momento, a saber que é adversário e visto de fora percebemos que foi quase aleatório).

Do lado de quem diz, traduz-se com: 
- estou furioso

Do lado de quem ouve:
- estava um pouco enervado mas fdx, agora fiquei furioso

Ceteris Paribus

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Saiam-me da frente senhores

É do crl andar em modo passo ligeiro.

Dificilmente encontras alguém que te acompanhe.

Ainda os outros estão a pensar como escrever o email e tu já trocaste 20 emails e telefonemas com quem tem de ser e o assunto está tratado.

E no final dizem-te: pronto, agora deixa-me tratar do resto. Já fizeste muito por nós.

E esperas, sentada, uma hora, um dia, dois já a transpirar pelo buço.

E nada.

Ainda estão a pensar sobre o primeiro dito email que não chegou a ser necessário. Ai fdx.

Voltas à carga, ligas, envias email, sinais de fumo e assentas pedra. 

Feito outra vez.

E ouves o mesmo discurso:  agora descansa que eu prossigo com os trabalhos.

E tu já só esperas uma hora e voltas à carga, mas já a bufar.

Até que, a tua próxima tarefa exige, por questões relacionadas com “parece mal se assim não for”, a opinião de terceiros. E tu vais lá, me modo ligeiro: vê lá isso e diz algo, quando puderes.

Esperas um dia e nada.

Armas o crl da tenda e ouves em resposta: tu não respeitas o meu tempo…

Ai.
Levem-me daqui crl.

PS: passados 26 minutos, aparece a coisa feita, pelos tais terceiros. Mas não me livrei de ouvir antes o “tu não respeitas o meu tempo”.


Ceteris Paribus