terça-feira, 26 de novembro de 2013

Estava aqui a pensar com o botão do meu impecável blaser que começo a ter idade para poder não gostar de certas coisas. Aos 10 anos não me era permitido não gostar de arroz de feijão e de filetes de pescada. Aos 20 já me era reconhecido o direito de não gostar de arroz de feijão com filetes de pescada. Hoje tenho o direito de não gostar nem de uma coisa nem de outra, individualmente ou em conjunto.
A mesma coisa se diga relativamente às pessoas. Nos tempos idos da minha inocência, cada pessoa que me aparecia à frente tinha em si todas as qualidades celestiais. Tinha enraizada a obrigação de gostar de toda a gente.
Com a sabedoria do tempo, fui percebendo que não tenho que gostar de toda a gente. Depois disso foi facil dar-me ao luxo de nao gostar de certas pessoas.
Hoje digo, sem medo, que nunca gostei da cinica da minha professora de matamatica do ciclo. E digo, sem medo, que nao gosto das pessoas que formigam a minha volta e que, na primeira oportunidade de mostrar a sua proclamada amizade, se afastam uns metros e assobiam para o ar.
Ha uns dias, sem querer, pus a prova as gentes das minhas lides. O momento acabou por ser de gloria mas podia ter acabado num autentico e gigante desastre. E houve pessoas que nao se cingiram a uma sms no final do dia a dizer o resultado da coisa. Prescindiram dessa posicao de conforto e estiveram la comigo.
Largaram as suas vidas durante uma tarde inteirinha para estarem comigo. Fosse para festejar ou para me darem o ombro para chorar, estavam la.
Nao devia estranhar a atitude, afinal sao essas as mesmas pessoas que tem acreditado mais em mim do que eu propria, pessoas que, sem nadinha em troca, tem estado sempre comigo, mesmo quando estou em modo insuportavel.
Perderam uma tarde mas fidelizaram o raio do meu respeito para o resto da vida (sim, ja o tinham, mas esta sensibilizou-me especialmte). Sao pequenos gestos que mostram a grandeza das pessoas, nao me canso de dizer. Este foi mais um. Mas o mais excentrico :-)
Gosto destas pessoas. E de todas as que se preocuparam com o episodio. Facto. Irrefutavel.
Nao gosto das pessoas que assobiaram para o ar. E foram algumas.

mm

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Vou já escolher a melhor esquina

Neste mundo distinguem-se dois tipos de pessoas: as que têm filhos e as que não têm.
 
As que não têm, além dos filhos, são totalmente desprovidas de argumentos válidos para tirar conclusões sobre qualquer assunto que vá parar ao tema "filhos e educação". Pelo menos é o que as que têm filhos consideram.
 
Quem nunca levou com " quando tiveres filhos vais ver" seguido de "eu também pensava assim antes de ter filhos" só porque uma não-mãe ousou dizer    "não sei se me vou aguentar 5 meses em casa, sem trabalhar, só a amamentar a criança e a ver a "Tarde da Júlia".. aos 3 meses já depositei a cria numa creche, é certo".
 
Ui e se se ousa ir mais longe e dizer que obviamente que uma criança com 10 anos que dorme com os pais, e portanto passam-se séculos sem que o casal se "toque", não faz mais do que os próprios pais lhe permitiram fazer?! aí não somos apenas pessoas desprovidas de filhos e de razão.. passamos a seres totalmente desprovidos de alma e sentimentos.
 
Pois advinha-se então o que as mães acham quando uma não-mãe diz     "estas pessoas acham que podem ter filhos como piolhos e contar que o Estado as sustente.... Devia haver um limite de crianças por casal/rendimento familiar da mesma forma que são limitados os animais de estimação por metro quadrado. Quem tiver mais do que lhe é "permitido" então pode começar a fazer contas à educação e saúde que vão ter de assumir por inteiro".
 
E não me estiquei mais na minha tese porque estavam vários olhos enfurecidos, e uns outros incrédulos, a rogarem-me pragas. Calma, eu não disse que era de se matar os que vêm a mais e afogar sem dó os que nascerem do sexo feminino ou com uma qualquer deficiência. Só acho mesmo que neste, e outros temas, as pessoas precisam de ver a sua vida restringida por regras pois de outra forma não se governam de forma inteligente. Com estes limitezitos deixávamos de ver pessoas com rendimentos familiares de 500euros e três filhos a exigirem da Segurança Social um qualquer subsídio...quando deviam era mandar forrar o útero com papel de encadernar os livros da escola dos putos.
 
E se eu disser que não sei se quero amamentar... vou certamente aparecer morta numa qualquer esquina suja.
 
E se eu for mais longe ainda e disser que a única diferença entre mim e o pai da cria é que eu é que sou a vaca leiteira e a lancheira portátil? No restante as tarefas serão divididas de forma perfeitamente equitativa.
 
(eu já o ousei dizer em voz alta e a resposta, depois do "não sabes o que dizes porque não és mãe", foi "oh.. mãe é mãe... teve o filho 9 meses dentro de si... o pai nunca vai sentir o mesmo que a mãe sente por um filho.. porque é só pai.. mãe é mãe". E com isto se perdem todos os argumentos e a vontade de argumentar.. seria chover no molhado e entrar numa psicose qualquer que, se calhar, só as mães ganham com a maternidade.
 
 
ceteris paribus