quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Fidel, e a minha descrição da história

Sou daquele imenso grupo de gente que gostava pouco de “marrar” na escola. Por consequência, a disciplinas como História, e outras que implicavam marranço, de tão extensas que eram, tornavam-se verdadeiros massacres e lutas icónicas, ano após ano.
Depois crescemos e lidamos com as referências à dita História com algum distanciamento e alívio, porque nada acontece se a resposta for “não sei”. 
E continuamos a crescer e as ditas referências começam a chatear e o “não sei” mais ainda. E então, ali ao ladinho do separador do Facebook, abrimo-nos a todo um mundo de descoberta interessada e sem um foco no exame da próxima semana.
E assim se cria um resumo optimizado na nossa cabeça, que nos satisfaz mas, estou certa, não me daria mais que um 3- na escola e um recadinho para os meus pais descrevendo uma linguagem desadequada.
Já diria o outro, que sa f#da.

Ora Fidel. Um senhor que há quem diga ter morrido há meses. Outros afirmam ter sido esta semana e outros há que já vieram dizer que el comandante, não estando para as curvas, respira e não tem ainda os ossinhos feitos em pó.
Certo é que este senhor é uma espécie de Marco Paulo, o nosso cantor dos dois amores. Há quem o odeie e há quem o ame. Eu não quero nem saber da sua cor política, mas vista a história e as ofertas turísticas 7 dias 9 noites em Cuba, não vejo motivo para grandes ódios.

Portanto, era uma vez… 
Cuba uma ilha porreira do Caribe, descoberta por Colombo, achando que aquilo era a Ásia (era pôr mais tabaco nisso…) e colonizada por Espanhóis. Vai que os Estados Unidos não são de perder oportunidades e afinfaram-se forte à coisa. Ora na dependência de uns e depois de outros e no regresso aos uns, Cuba alia-se aos Russos naquela onda do “inimigo do meu inimigo, meu amigo é”. Os Estados Unidos, enfurecidos e cagados pela proximidade geográfica, fazem complô, com alguma chantagem, com outros países que passam a renegar comercialmente Cuba. Vai a URSS, que não é parva, e decide aperfilhar Cuba e a subsidiar o povo. Ali no meio, diz-se que Cuba começou por ser rica em metais, esmifrados entretanto pelos Espanhóis, e depois em Açúcar, esmifrada pelos Estados Unidos. Sem saber ler nem escrever, ao que parecer literalmente, Cuba passa a ter como grande dinamizador da sua economia o putedo. É. (apontamento meu: não é por acaso que as danças que ali predominam implicam roço sério e uma mistura agressiva de suores). Adiante. Cuba ostracizada pelos Estados Unidos, e a URSS desfeita, teve de se fazer à vida e abrir portas, comerciais, ao Mundo. Isto é coisa para ser recente, como podemos constatar pelo parque automóvel mais vintage de todo o Mundo.

Isto é o resumo dos resumos. Mas então e se alguém quiser mais detalhes ou o jantar de amigos precisar de um tópico mais alargado ou simplesmente porque o vinho está a cair que nem o Brufen em xarope?

Pronto, então foi mais ou menos assim: 
Ora a simpática ilha estava sossegada até lá chegarem os Espanhóis. Aqui em Portugal já se sabe que dali nem bom vento nem bom casamento. Mas os indígenas não sabiam disso. Portanto aquilo tornou-se o playground de Espanha. Vêm os Estados Unidos e tomam conta do assunto. Ora como em toda a boa história, um país cheia de escravos, e onde se faz força para criar literacia, o que é que acontece? Há um nego que se chega à frente. Chega rapidinho e vai embora na mesma velocidade, mas no caminho abre portas aos grupos estudantis que, na fase da rebeldia, veêm a oposição como uma espécie de afirmação pessoal. Pois e foi aqui que o Fidel entrou. Um estudante que, até fazer verdadeira história, ainda levou porrada, foi preso, foi libertado por forças, diria, da natureza, desertou e voltou em força, assentou arraiais, e nunca mais largou o osso. Ora mas foi na altura em que desertou para o México que foi conhecer um médico, o dito, o tal, o Ché Guevara, que na verdade se chamava Ernesto. (Acho delicioso o nome artístico, quando o nome que a mãezinha lhe deu é bem corriqueiro.) E agora a parte mais espectacular. Lá foram os dois rumo a Havana para armar a tenda, e lá chegados a coisa já estava tão mal e o Batista tão odiado pela maioria da população, os pobres, que foi fácil fácil manda-los a todos com os pitos. Vai dali o Fidel começa uma limpeza mais alargada pondo a andar tudo o que cheirava a americano. A seguir vem aquela cena da Baía dos Porco, e novamente os Estados Unidos, esquecendo do passado, acham que Cuba é o seu parque de estacionamento privado, recrutam e patrocinam cubanos revoltados com o sistema para meter pau naquilo tudo. Resultado?  1/3 morreu os demais foram, qual Jesus Cristo, colocados à disposição do Povo. Mas muito em jeito do que aconteceu na Grécia, o povo tem o poder de decidir, e decide que quer mata-los, mas e Fidel achou melhor troca-los por tractores (não estou a gozar). Os Estados Unidos devem ter corado, tamanha a vergonha alheia, e decidiram trocar prisioneiros por alimentos e medicamentos, que esta merda não pode parecer troca de tazus, e tem sim de se assemelhar a uma manifestação de grandiosidade e tal! Depois aparece a crise dos mísseis. E nesta altura já Cuba se aliava à URSS e estes, não vão de modas, toca a aproveitar a simpática ilha para se posicionarem contra os Estados Unidos. Os Estados Unidos, cagados, não gostaram da cena, mas o Kennedy lá reflectiu e antes de mandar aquilo tudo pelos ares decidiu promover uma implosão. Como? Impedindo que outros países tivessem relações comerciais com Cuba. E foi então aqui que a Rússia teve de aperfilhar Cuba, como antes tinha referido. Com o fim da URSS, fodeu. Cuba teve de ir aos mercados vender qualquer coisa e aquilo é portanto uma miséria só. Até hoje. 

Voltando então à minha questão inicial. Fidel é coisa para se admirar ou carimbar como filho do capeta. Pah, o senhor teve por base uma coisa bonita: não permitir que os Estados Unidos fizessem da ilha o palheiro onde os seus escravos produziam e se reproduziam. Levado pelo URSS, qual Portugal subsídio-dependente, lixou-se quando a mama acabou. E a abertura aos mercados demora tempo. Assim, aquilo é pobrezinho mas foi conseguido com esforço. Naturalmente que onde há fome, todos ralham e ninguém tem razão- ou lá como se diz essa merda- e o Fidel lidou com um povo esfomeado, vizinhos sedentos de vingança, aliados inutilizados e todo um Globo lambe-cu e dependente dos Estados Unidos que lhes viraram costas. Ou seja, muita precaução na abertura a modernismos e vozes vindas de fora cheias de boas vontades e promessas. Que dessas o Fidel já conheceu o bastante.

Fim.
(ou não. Ao que parece o senhor aproveitou uma data histórica para se anunciar a sua morte e até à data ninguém viu efectivamente o senhor morto. A 25 de novembro, Fidel Castro juntamente com um grupo de guerrilheiros, do qual faziam parte Raul Castro e o dito "Che Guevara", fizeram a primeira tentativa para derrubar o regime de Fulgêncio Batista. No dia em que o senhor é dito morto, passavam exactamente 60 anos dessa data que marcou na história cubana. Fixe hein? O senhor, até na sua morte, tem de deixar marca. O outro morre com uma queda de uma cadeira. São cenas. Mas sobre essa outra história, falarei noutro dia)


Ceteris Paribus