sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Admiro as pessoas que fazem uma lista de planos, ou desejos, ou objetivos, ou lá o que é, para o ano seguinte. As coisas não acontecem e as promessas não se cumprem, mas pelo menos fazem uma declaração de intenções e no final do ano poderão, com propriedade, sentir-se mais ou menos frustradas.
No topo da lista está o costumeiro "deixar de fumar". E deixam. Nos primeiros dias de janeiro, enquanto dura a intoxicação de álcool e tabaco da passagem de ano. Aqueles que divulgam o evento no Facebook aguentam mais um tempo, para não parecerem fracos. Depois voltam a ter 13 anos e fumam às escondidas de todos - principalmente da mãe, que pôs o emoji "adoro" e comentou "meu rico filho, és o meu orgulho -. Aguentam 3 jantares com os amigos e ao 4.º aproveitam o estado ébrio da malta e fumam 30 cigarros cravados. A partir daí já vale tudo outra vez.
Os 12 desejos das passas também têm que se lhes diga. À 5.ª passa já estamos tão angustiados por ter que triturar aquele pequeno-espécime-que-mais-valia-ter-dado-vinho que começamos a repetir desejos. E é por isso que não se realizam. São pedidos em par e é consabido que tudo funciona melhor em número ímpar. Começamos por pedir saúde para todos, depois vem o sucesso no trabalho, depois felicidade no amor, desejo que repetimos mais à frente e por isso professamos desde logo o infortúnio.
Eu não faço listas de planos mas mastigo veementemente as 12 passas. Não me sinto frustrada no final do ano por não ter ganho o Euromilhões. Nem por não se terem realizado os outros desejos igualmente megalómanos. Que se é para pedir, que seja em grande. 
Também peço felicidade no amor (com uma formulação mais encriptada). E talvez seja este o campo em que, com maior facilidade, consigo fazer um balanço no final do ano, utilizando a técnica da Aritmética das pilas. Somam-se as pilas, por mais que algumas apeteça subtrair ou tenham valor nulo, e o balanço está feito.
Tenho tido anos fartos. De tal forma que, pelo esforço herculano envolvido, já dava sinais de querer dedicar-me a uma só pila. Ora bem, depois de algum investimento numa só pila, posso dizer que dá mais trabalho ter uma do que conseguir muitas. 
Vale a pena refletir. Vejamos alguns possíveis contornos de ter uma só pila:
- Pila medíocre: vais ter que fazer a omelete, por isso, já que não tens o ovo, vais ter que inovar no processo de confecção. Experimentas tudo. Horas, semanas, meses até poderes comer alguma coisa;
- Pila romântica: Cafezinho. Jantarinho. Chazinho. Filminho. Telefonemas, Sms. TODOS OS DIAS; 
- Pila cansada: Dia mau no trabalho, problemas, confusões várias. Vestiste a tua melhor cueca mas o máximo que vais dar é o ombro;
- Pila maluca: Sempre a querer saltar-te à espinha e tu estavas habituada a escolher os dias em que te dedicavas à causa;
Pila sempre ocupada: Às tantas começas a olhar para pilas que parecem querer dar-te atenção;
- Pila indecisa: Passados dois meses começa a dizer que tem dúvidas sobre o que quer. A pila está confusa, precisa de pensar na vida. Tu compreendes. Dás espaço à pila. Meanwhile, in paradise.


MM