quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Jantares de Natal

A par dos dióspiros, os jantares de Natal são o fruto da época. Uma farturinha, é vê-los cair das árvores. Do dia 4 ao dia 23 de Dezembro é uma só pândega. 
Jantar de Natal do curso de pós-graduação e/ou Mestrado e/ou Doutoramento, Jantar de Natal da associação de pais da C+S de Cuba do Alentejo, Jantar de Natal da associação sócio-cultural e recreativa da junta de freguesia de Ameixa de Cima, Jantar de Natal do grupinho da hidroginástica, Jantar de Natal da turma de 1995, Jantar de Natal do Curso de 2004, Jantar de Natal da Liga dos amigos dos patos amarelos com riscas verdes, Jantar de Natal com os primos, que no dia 25 não dá para avacalhar, Jantar de Natal do escritório "A", Jantar de Natal dos escritórios "A" + "B"com convidados do escritório "C" que pertenceram ao escritório "A" e odeiam o "B".
No dia 25:
- É normal que não haja dinheiro (não foram as prendas para a família, foram mesmo os € 20 por pessoa em cada jantar de Natal + os € 5 para cada gato-mealheiro de barro que se comprou para a troca de prendas);
- As cordas vocais precisam de uma afinaçãozinha de mel e limão, tanta foi a faladura;
- Há que pedir perdão às divindades por tanta poesia que se disse acerca das vidas alheias;
- Seremos expulsos da missa do galo, por falta de espaço para nós e para os nossos pecados;
- O estômago já não está muito receptivo a rabanadas e ao tronco de Natal, depois da cozinha massificada e do "vinho da casa" dos restaurantes que nos fazem o especial preço de € 20,00 por pessoa, mas sem o saudoso "à discrição";
- Passamos a olhar de lado aquele colega de trabalho que bebeu demasiado "vinho da casa" e decidiu revelar a sua paixão que podia bem permanecer secreta.
Pessoalmente, não sou de Jantares de Natal. Porque não ando na hidroginástica, porque não gosto de pagar quotas e como tal não pertenço a nenhuma associação, porque não ando a tirar Mestrados ou outras cenas, porque me tenho esforçado muito para que a turma de 1995 se esqueça da minha existência e porque as pessoas, no seu geral, detestam-me e como tal não me convidam para Jantares de Natal.
Mas há um do qual não me escapo: o Jantar de Natal do escritório. Esse grande evento. Desde que comecei a trabalhar (e já lá vão uns valentes 5 anos) só falhei um ou dois. Foram sempre muito bons, mas nada bate o deste ano.
Comida (um ligeiro aparte, que o que interessa nestes Jantares é tudo menos a comida): tinham comprado dois pacotes de natas do Lidl a cada um e estava resolvido. Ainda não percebi o fetiche daquela gente com natas, sempre que nos reunimos à mesa levo com natas desde a sopa até à sobremesa.
Se estive dois minutos sem estar a cortar na casaca ou a ouvir falar mal de alguém? Estive. Demorei 3 minutos na casa-de-banho. 
Saí de lá até meio atordoada com tanta informação. Todos somos potenciais alvos das grandes opiniões dos outros, mas este ano duvido que alguma alma tenha saído invicta.
Uma colega saiu de lá com a certeza de que a chefia lhe anda a tramar alguma e que algumas pessoas, generosamente, estiveram somente a dar-lhe sinais de aviso.
Eu apareci lá com 3 kg a menos em relação ao ano passado e fui tratada como se tivesse emagrecido 49 kg e ainda me faltassem 28 para estar benzinho. Algumas moças devem saber exactamente quantos fios de cabelo tenho, de tanto que olharam para mim a noite toda. 
Conheci algumas das mais recentes contratações do estaminé, das quais me foram relatados os principais feitos, e recebi o relatório detalhado da vida de outras. Ouvi as opiniões concertadas da grupo "A" sobre o grupo "C", emiti as minhas sobre cada um deles a cada um deles, levei com uma recém-divorciada que está agora a viver a sua adolescência e acabei a noite numa fila de 25 metros para entrar numa discoteca às 4h30 da manhã (meia volta, marche).
Ainda bem que o Natal não é quando o Homem quer. Uma vez por ano está bem. 

MM