quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Esteja no céu quem inventou o gel desinfectante

no meio de uma vida que deve muito ao "saudável" vou tentando manter o que eu chamo de "uma espécie de desporto" (outros não lhe reconhecem essa classificação mas tudo o que faça soar é, para mim, desporto). "Uma espécie" deve-se ao meu grau inicial na coisa.

Um dia lembrei-me de me aventurar nas danças de salão. À partida previa-se ser coisa para não me cativar fidelidade.

Eu sempre fui a moça da aldeia que não dança nos arraiais da aldeia (um ser estranho e anti-social, para os demais da aldeia, portanto). Essencialmente porque me derreto em vergonha só de pensar na hipótese.

Também sempre fui um pouco avessa a suores alheios.

Continuo a dar-me mal com suores alheios e o gel desinfectante para as mãos podia rapidamente ser usado como gel de banho se eu não achasse que aquilo me dava cabo da pele.

O contacto físico  com pessoas cujo nome desconheço e que podem ter uma idade compreendida entre os 18 e os 60 não se torna algo irrelevante, como uns e outros "prós" podem profetizar. Dançar cha cha cha com um senhor de 60 anos não tem problema. Já dançar bachata, kizomba ou tango é esquisito e tira-nos a vontade de acharmos que podemos dar um ar sexy à coisa. Mas fenómeno giro é que é mais fácil dançar com um homem desinteressante (fisicamente falando) do que um homem que nos mexe com o sistema. Com um homem desinteressante não há nada que se mantenha na cabeça a não ser o conseguir adivinhar e seguir os passos que ele vai decidindo. Com um homem "interessante" outras coisas nos assolam a mente, e os passos e os pés acabam por se perder, como "ai cheira bem", "ai não me agarres desse jeito", "ai não me ponhas as mãos nas costas, estou a escorrer suor", "ai não me olhes assim", "ai a fivela dos sapatos não está a combinar com a cor dos meus olhos", "aiiiiii tirem-me daqui que já não sei se devo inspirar- expirar, ou ao contrário..esqueci-me de como se respiraaaaa".

Mas no fim da aula, doí-me tudo menos a alma e (também por esse facto tão característico de quem faz desporto) sinto-me orgulhosa  por me manter fiel à prática que- veja-se a cereja no topo do bolo - se faz de saltos altos. A seguir, só um cigarrinho e uma quantidade simpática de gel desinfectante nas mãos para me dar como uma tipa satisfeita.

ceteris paribus