terça-feira, 3 de julho de 2012

Aquele friozinho na barriga.

Não tenho dito nada porque não tenho tido nada para dizer. Ou melhor, haver o que dizer até há, simplesmente não consigo comentar com o mínimo de inteligência tudo o que tenho vindo a assistir. E como é preciso inteligência senhores... primeiro para entender e processar, depois, e não chego lá, para opinar.
Este ano, desde o seu primeirinho minuto, tem sido rico em histórias e enredos que encostam a um cantinho escuro as novelas mexicanas mais rebuscadas.
Mas toda a trama me tem sido alheia (ter um camarote privilegiado não faz de mim nem figurante), do que pode concluir-se que, comigo, não se tem passado puto. Nem bom nem mau. Puto.
Que às vezes até é bom viver numa total pasmaceira, fazer parte de uma linha de montagem, mover-me mecanicamente, enraizar a rotina, mastigar os dias. Mas é só às vezes. Porque bem no fundinho sou uma pessoa que precisa de agitação. E se a agitação não vem ter comigo, há que procurá-la. E não precisei de me esforçar muito para que a procurada "agitação" se transformasse no eufemismo do verdadeiro sentimento que tenho agora: pânico.
Voltando atrás: há coisa de dois meses acendi o rastilho das grandes decisões familiares. Vai daí, qual Salgueiro Maia, decidi revolucionar a minha vida. A ideia está em embrião e ainda não atingiu as 10 semanas. Estou no período legal de interrupção.
Eis o que sucede: Mudar de cidade e de trabalho.
Do Porto, cidade perfeita, para Lisboa, cidade desconhecida. De um trabalho, o primeiro e único, seguro q.b., liberal q.b., para outro sobre o qual ainda nada tenho a dizer porque amanhã é que vou conhecer os contornos mínimos da situação na Entrevista, essa tola.
Ora bem, uma Entrevista de Emprego assusta-me na medida em que nunca fui a nenhuma.
[Ou se calhar estou a mentir. Há uns tempos decidi que devia ganhar mais dinheiro e candidatei-me a uma série de empregos em part-time. Calhei no recrutamento para a NASA, que implicou um longo processo de avaliação curricular, psicológica e cultural. Afinal era para o balcão de informações de um shopping, cargo para o qual não demonstrei aptidão e fui eliminada. Continuei a contar tostões].
Mais do que o que vestir e o que calçar (questões essenciais, não me lixem), já me questionei sobre o que raio vou eu lá fazer?
Isto porque:
Não aceito remuneração abaixo de 4 dígitos;
O regime de subordinação numa profissão liberal pode resultar num estrangulamento da liberdade e autonomia técnicas que tenho agora;
Não aceito contratos a termo certo;
Não gosto que me imponham coisas, como horários fixos e merdas dessas;
Não gosto de ar-condicionado nem de trabalhar em open space.
Basicamente quero um emprego de sonho. E como tenho consciência de que se é disso que se trata não serei eu a feliz contemplada, pergunto: o que raio vou eu lá fazer?
E respondo: gastar um dinheirão em viagens, ficar lixada por não conseguir ficar com o trabalho (que uma coisa é eu não querer, outra bem diferente é dizerem-me que não me querem), perder um dia de trabalho, sentir o nervosismo de uma entrevista de trabalho e, melhor que tudo, deixar a minha colega de trabalho a pensar no que será a sua vida se eu me for embora - sou daquelas pessoas que tem a mania de não ter segredos e então achei que seria injusto não dar uma explicação depois de dizer "amanhã? amanhã não estou, tirei o dia". Contei a verdade e ouvi um "A sério? Mas...Então e...Que bom!" a laivar de ironia, e senti uma dor latejante no lobo frontal (que é onde se localiza o detector de pequenas invejas). E sei que não devia ter dito, sei sim senhor, tal como já sabia antes de o fazer. Em frente.
Quero conseguir este trabalho, quero poder decidir se aceito ou não. Mas tudo o que  implica esta mudança, ainda hipotética, deixa-me em pânico. Ir viver para Lisboa ainda é como o outro, sempre fui um bocado nómada e isso até me entusiasma. O que me deixa em pânico não é a chegada mas sim a partida. Deixar o Porto e tudo o que de bom tenho nesta cidade. Nem quero pensar nisso.
Step by step.

Mutatis Mutandis