quinta-feira, 17 de julho de 2014

Em modo autista.

Aquela sensação de nada. Sim, vamos filosofar. Estou em dia de existencialismo, de indagação sobre o meu papel no filha da mãe deste mundo. Acordei desencontrada com tudo à minha volta. Se calhar foi o novo toque do despertador que despoletou todo este momento de introspecção.
Demorei uns minutos a perceber que aquele era o sinal de que tinha que me fazer à vida. Bem, mas qual vida?
E a música continuava...but that was when i ruled the world...
Bem, eu cá nunca dominei o mundo, pensei. Mas já tive dias melhores. Tive?
Outros tantos minutos para me situar no programa das festas. Levantar o panelo, tomar banho, vestir (o quê, meu Deus, se não tenho roupa?), ir trabalhar (vulgo morrer mais um pouco), ir ao treino fortalecer o abdominal (achas mesmo que vais ter um corpo decente para te pores de biquini meia horinha na praia?! Tens tanta graça).
Comecei então a pensar com mais pormenor. Trabalho: foda-se, eu não nasci para aquilo. O mais incrível é que nunca ninguém me disse isso na cara, todos vão condescendendo. O que me pagam é, bem vista a coisa, mais do que mereço. A senhora da limpeza ao menos deixa o chão a cheirar bem.
Estou no último nível de enfartamento, a seguir dá-se o holocausto laboral. E talvez, no fundo, nunca tenha gostado assim tanto daquele trabalho. Não deve ser coisa de agora, talvez seja até coisa de sempre que tenho tentado contrariar. Não tenho jeito para aquilo. Nem gosto. Ou não gosto nem tenho jeito.
O meu subconsciente tem-me pregado partidas destas, de arranjar tomates para dizer umas coisas ao consciente. Temo que a seguir me diga que afinal gosto é de gajas.
Retomando: sou completamente dispensável no trabalho. Chego a ter pena de ainda não terem reparado nisso. Deverei, num rasgo de honestidade, avisar a chefia de que há alguém que às tantas devia ser posto a andar?
Há umas semanas decidi que queria tirar outro curso. Completamente diferente do meu mas muito útil às minhas necessidades na convivência com o próximo (e o anterior) - Psicologia. Houve pessoas a apoiar a ideia, por mais estapafúrdia que lhes pareça. Houve outras a reagir como se eu estivesse a fazer o pino ao mesmo que dançava cancan e fazia pipocas. Riram-se. Outras que não se ocuparam mais de dois segundos com o tema. Descansem todos, o concurso só tem 6 vagas e eu ficarei, certamente, no 1.º lugar dos suplentes. Nessa altura a ideia de tirar psicologia será como tantas outras ideias que já tive: um fracasso que nem chegou a ser.
Enquanto pensava nisto, já de banho tomado, pus-me em frente ao roupeiro. Precisava de alguma coisa que fizesse pendant com a inocuidade da minha existência. Escolhi então umas calças de ganga sincronizadas com uma camisola e um lenço já cansado de tanto uso em tantas situações.
Tenho que fazer o saco para o treino. Será que devo insistir no treino de boxe? Vá, não vamos agora desistir de tudo e de todos. Está bem que a merda das luvas te foram oferecidas por aquele traste e ainda não te dignaste a comprar outras, mas vá, nem costumas pensar nisso, e até gostas daquilo. Também não tens jeito nenhum para aquilo, é preciso coordenação, táctica, inteligência, concentração, e tu é mais siga-murro-para-a-frente, mas pronto, pagas para que te tolerem.
No fundo, há uma certa benevolência do Universo. Tolera-me. Assim como as pessoas que conheço e vou conhecendo. Toleram-me. Mas há outras que se deixam de merdas e assumem que a minha existência lhes causa algum mau estar.
A minha mãe é pessoa para gostar de mim à brava por causa daquela cena de me ter carregado no ventre durante 9 meses (se é que lá estive tanto tempo) e blá blá blá. Já o meu pai....tem dias. A veneração do meu irmão vai-se esfumando a cada publicação no Facebook onde apareço encostada a um copo de vinho (podia poupá-lo desta informação, mas também gostava muito de o afastar de todos os males do mundo e não posso). Depois há 3 ou 5 pessoas que arrisco afirmar que vão à bola comigo.
Estava eu a pensar nisto e já o subconsciente se estava a rir às gargalhadas. Não dei importância imediatamente, tive que ir à caixa de ferramentas e martelar a porcaria de um prego que estava a querer sair da sandália. Fui tomar o pequeno almoço, qual abutre esfomeado, a senhora das cartas lá estava na televisão a ditar a sorte às pessoinhas. O meu subconsciente ria-se tanto que tive que lhe dar atenção. Ria-se porque descobriu a verdadeira razão de toda aquela frustração matinal: gajo. 
Não se contrariam as evidências. Pois claro que o problema aqui é todo gajo. Não o de há uma semana nem o de há um mês, isso são águas passadas, o de agora, que também não é só de agora.
MM gosta de viver no limite. Sai de uma situação de merda. Ainda está namerda, aquele período que devia ser de jacência, e mete-se noutra. 
Enfim, fechei a porta de casa, entrei no carro, fui trabalhar e passei o dia em modo autista.
E no meio de tanta reflexão nenhuma luz a indicar a puta da direcção que tenho que dar à minha vida.

MM