quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Vinha aqui dizer qualquer coisa. Li o post da CP e esqueci-me do que vinha dizer.
Vamos falar de trabalho, essa coisa maravilhosa, que não nos dá dinheiro mas que nos ocupa a cabeça e nos impede de pensar em coisas estranhas.
Sou a pessoa mais disponível para o trabalho que o meu chefe alguma vez teve e terá. Não tenho filhos, não tenho marido nem namorado, não tenho nenhuma ocupação chique tipo kung cenas ou Tai Chi coiso, pilates ou yoga com o mestre Nyása. Vida social, qual vida social, encontros amorosos, o que é isso. Na verdade, nem telemóvel pessoal tenho. Evadiu-se da minha vida há umas semanas e só dou por isso quando, uma vez por semana, sinto a falta do som de bateria fraca.
Em contrapartida, toda a fauna deste escritório é rica em impedimentos para a actividade laboral. O trabalho é uma espécie de entretenimento para os intervalos de outras actividades mais giras e úteis, que têm que ser exercidas, essas sim, de forma exemplar e irrepreensível. Destaco a maternidade, essa missão de vida. Ora bem, os meus filhos entram na escola às 9H00, saem às 16H00, portanto estou inteiramente disponível para trabalhar durante esse intervalo de tempo, salvo quando há viroses, festas, reuniões de pais, com o director do colégio ou com a mãe da Ritinha, situações em que, como sou tão boa mãe, estarei não só indisponível como completamente incontactável e verdadeiramente a cagar-me para os assuntos de trabalho e para cada um de vocês. A pessoa é então contratada para trabalhar o que em duas ou três horas dá para fazer. E se por algum motivo é apanhada a trabalhar depois das 16h00...Oh mulher, tu vai-te embora. Não tens filhos? Não tens vida? Nesses momentos penso no prazer que será sentir o agrafador a mostrar toda a sua valentia nas pontas dos dedos.
Soube agora de uma transferência (parece mas não, não trabalho numa repartição de Finanças) para o escritório do Porto. Para o escritório onde trabalho. Concretamente, para o meu gabinete. A moça vem porque encontrou o amor no Porto e decidiu vir para cá viver a magia. Não vai meter o bedelho no meu trabalho, vai ter o seu, só o seu, e não vai incomodar ninguém. Esta é a missa que se reza pelos corredores. O que efectivamente vai acontecer: a moça vem, está a viver o amor, 7 dias de sexo por semana durante o primeiro mês, entra tarde e sai cedo porque porra, eu tenho vida, marcam casamento, 1 ano a levar com amostras de convites,  gritinhos e  suspiros, casam-se, licença de 45 dias porque juntam-se as férias com a licença de casamento e os dias do ano passado, lembra-se?, gravidez, 9 meses de consultas, indisposições e maleitas várias, licença de maternidade. Creche, doenças, viroses, 09H-18H porque o marido é cooperante, Quem é que vai levar com o trabalho dela durante as suas indisponibilidades? Pois. Ou talvez não, que nas horas de muito aperto sai de mim uma pessoa com alguma dignidade e amor próprio que manda os outros para as grandes mães que os pariram. 
Será que se eu encontrar o amor eles deixam de fazer aquele ar de fastio quando saio antes das 21h00? Uma coisa é certa, quando me candidatar a outra coisa qualquer, vou com as armas todas: aliança de comprometida, ar maternal e de quem se cansa muito se trabalhar mais do que 4 horas, deixar bem claro que o trabalho é só para me ocupar o tempo e ofender-me com a primeira oferta salarial. Nada abaixo de € 5.000,00 compensa a penosidade de trabalhar 4 horas inteirinhas quando se tem tanto amor para dar em casa.

MM